terça-feira, 30 de outubro de 2012

Saudades de quem me ensinou este poema...

"Caminante, son tus huellas el camino, y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar. Al andar se hace camino, y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante, no hay camino, sino estelas en la mar." (António Machado)
Mood swings for the win! (not)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Helplessness

I was raised up believing I was somehow unique
Like a snowflake distinct among snowflakes, unique in each way you can see
And now after some thinking, I'd say I'd rather be
A functioning cog in some great machinery serving something beyond me


[Como é que isto se fazia, mesmo?]

Há algo de interessante em, de repente, lembrarmo-nos que temos um blog. Um blog sobre o qual nunca falamos aos amigos, um blog que não sabemos ao certo se alguma vez foi lido (e se não foi, tanto melhor).
A primeira conlcusão após uma breve vista de olhos sobre o que escrevi há uns anos, é que afinal não escrevo assim tão bem como pensava. A segunda, é que era muito parvinha. A terceira é que já não sou a mesma pessoa. Felizmente.
No meu perfil, continuo estudante. Suspiro. Acho que o vou manter assim. Antes estudante do que o rótulo de desempregada. Falhada.
Pelo menos, os dramas hoje são reais. Já não há tempo para o choradinho da relação que falhou.
Há um emprego que foge. Há amizades que acabam. Há ilusões que se desvanecem. Há fracassos atrás de fracassos. Há sapos que se engolem.
Mas também há as melhores memórias. Há novas amizades que vieram para ficar (até ver). Há um sorriso que me enche o coração, e há uma timidez que não deixa que seja mais do que isso (e ambos sabemos - e gostamos).
Mas há, sobretudo, um vazio. Alimentado em grande parte pelo nada que preenche os meus dias, é certo. Mas, mais do que isso, alimentado por saber que a vida me está a passar ao lado, e que não devia ser assim.
Mas já não posso mais. Estou tão cansada de remar contra a maré...
Às vezes acho que não há nada mais aqui para mim, mas o medo tolhe-me.
Odeio sentir-me fraca, odeio o medo, mas não me consigo lembrar de nada que não odeie...
Não me reconheço.
E de repente apercebo-me de que nada do que escrevi faz sentido. Bem-vinda a mim.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

[Btw, quanto tempo é suposto durar a fase do 'reset'?]


(Jorge Cham, www.phdcomics.com)

Devoções #3

O post anterior fez fervilhar a vontade de retomar aquela que era suposto ser uma série de numeração indeterminada - a enunciação das minhas devoções (primariamente musicais).


No fascículo n.º 3, apresento a minha devoção por Morphine, começando a traçar-se um padrão um pouco macabro - bandas/músicos já falecidos. Mas que deixaram um legado inigualável...
Infelizmente, Mr. Sandman abandonou-nos cedo demais, deixando contudo a sua música de uma qualidade indubitável, ainda por cima complementada por letras que nos fazem pensar em cada uma das palavras escritas e cantadas. Como se não bastasse para criar o mito, Sandman morreu em palco... (Macabro!)


Os Morphine surgiram estranhamente cedo na minha vida. Lembro-me de ver Morphine na MTV (quando ainda era verdadeiramente aquilo a que se propunha - a music television), nos tempos áureos das antenas parabólicas, quando verdadeiras legiões de teenagers se juntavam em frente à televisão para assistir a essa raridade que eram as maratonas de vídeos. Na altura, diga-se, estava ainda longe de ser uma teenager...
Infelizmente, o tempo encarregou-se de ocultar algumas das (boas) memórias desses tempos, e por isso só recentemente os Morphine regressaram aos meus ouvidos. Cortesia de um bom amigo, cujas dicas musicais têm sido extremamente eficazes, diga-se.
Nesta nova vaga Morphiniana, as músicas apresentaram-se com significados totalmente novos. E encontraram-me com uma nova capacidade para perceber a real dimensão musical daquele saxofone, da originalidade de uma banda sem guitarras e do poder do baixo de sandman. Mas sobretudo, soube perceber a melancolia das letras, embaladas pelo negrume da combinação do baixo, saxofone e bateria. E sim, eu sei que nem todas as músicas são melancólicas, mas até no humor sarcástico de 'Virgin Bride' eu encontro uma certa melancolia...


Houve uma música em particular que me marcou por um longo período de tempo (talvez ainda marque) - Empty Box. Quando a ouvi a primeira vez, senti todas as palavras, como se descrevesse perfeitamente o que sentia. E lembro-me que, incapaz de verbalizar o que sentia, limitei-me a deixar que a música falasse por mim. Foi o fim de uma era...


Mas indpendentemente das memórias traumáticas, os Morphine permanecem... E ainda muito recentemente, foram a minha companhia durante as longas noites de pesquisa e de escrita, aquando das minhas aventuras como investigadora. Mas há uma música em particular que me arrepia e que associo de imediato a Morphine - The Night. Há qualquer coisa naquele saxofone, na voz de Sandman, que me embala, que me faz desejar que aqueles versos tivessem sido escritos para mim... E o solo de saxofone... Muito, muito perto da perfeição musical!


E podia terminar o post por aqui, não fora o torpor depressivo que hoje me invadiu. Porque há dias em que é impossível desviar a atenção de certas coisas, em que por mais que tentemos não conseguimos ignorar a tristeza e a saudade, e em que a verdadeira dimensão do significado da perda nos atinge com particular força. E perceber que aquela pessoa partiu, que há tempos que não voltam e que por muito que nos fechemos no casulo, o mundo ainda gira, e que temos que acordar do sono letárgico. Estejamos, ou não, prontos. E não há nada que o exprima de forma tão clara, tão límpida e tão bela como uma das minhas músicas preferidas - Gone for good.
E porque se faz tarde e amanhã é um novo dia - I know you're gone for good.

[divagando]

E às vezes, hei-las de volta. As memórias.
De forma insuspeita, começam por insinuar-se. A tempos, surgem, por vezes camufladas. Mas não tardam a fazer-se sentir em toda a sua força.
Seria de pensar que o tempo tudo apaga, que o virar das páginas no calendário tudo faria esquecer, e que no máximo ficariam algumas lembranças baças, como fotografias amarelecidas.
E surpreende-me ver que não. Que ainda que as recalquemos, as memórias sempre hão-de encontrar um espaço por onde espreitar e visitar-nos.
Há semanas que não me largam. E os cinco sentidos despertam da letargia.
É engraçado que as memórias auditivas sejam as primeiras a surgir, e a fazer lembrar as restantes. Lembro-me de todas as músicas,de cada momento, do que significavam. São indissociáveis de uma época...
E lembro-me de ti. Das conversas infindáveis, dos planos audaciosos - crescentemente audaciosos - que traçávamos, como se só nós existíssemos e o mundo estivesse nas nossas mãos e nada mais interessasse.
Tenho tantas saudades desses tempos. E de ti. De quem eras. Talvez também tenha saudades da pessoa que era (mas é mais fácil fazer de ti o bode expiatório).
E sempre que estas memórias me invadem penso que nunca chegámos a ter uma conversa, nunca dissemos honestamente por que é que correu mal e por que é que não continuámos os dois juntos, contra o mundo. Há tanta coisa que te queria perguntar...
E claro, tudo finda com mais uma lembrança musical (e com a dúvida sobre se ainda te lembrarás desta) - porque, no fundo, tudo se resume a isso.